tenho uma pasta onde guardo trinta discos. não estarão lá, exactamente, as trinta rodelas mágicas mais importantes para mim, mas perto disso. ao folhear a pasta, encontrei na 2ª página o delito. peguei no disco, coloquei-o subtilmente no meu leitor de cd's, e prossegue, ainda agora, mais uma daquelas sensacionais viagens por canções enormes e tão raras. nada mais reconfortante do que o caminho começar com gestos e olhares subtis. estranho, para mim, ter sabido o porquê de subtilmente. um imaginário distante daquele que, durante quatro anos, pensei ser o da canção. há, no entanto, os pontos que se cruzam e é aí que está a essência entre o real e o imaginado. esta é daquelas canções prodigiosas, e, para nós é um prazer tão grande transportá-la para o nosso universo vagaroso e de melancolia acústica. só que o 'delito' prossegue - e quando alguém diz algures entre o sexto e o sétimo minuto de um disco que 'morrer de amor é mais bonito', faz-me sentir que o planeta phado é não só um fado futurista, como também o transbordar das lágrimas e da saudade, que partem do tejo para chegarem ao cyber-espaço. e é daí que partimos para aterrarmos nas profundezas do teatro antigo, onde o registo lírico de loosin yelav nos conduz para um cenário de gala, ao lado do cabaré cinemático de visão lynch, que nos guia por um imaginário de fantasmas e visões. segue-se o regresso a casa, com o tejo como pano de fundo, entre sinto em mim e alfama, pedaços maiores do avant-fado, intervelados pelo 'new wave' de murmúrios, adornado por fragmentos de zoofonia vocal. segue-se mangissa, e, novamente, os fantasmas e um ambiente ainda mais cortante do que em visão lynch, que encontra em ela ela a saída - a fuga é 'ela', a alucinação. com ecran reabre-se a porta da melhor pop portuguesa 80, que se fecha logo a seguir, para a recriação, entre o cabaré e o lírico, de dois clássicos: salomon song, de weill e brecht, e lili marleen, de schultz e leip. depois da viagem até ao passado, o regresso ao futuro: asiaousi, onde se percorrem outros caminhos sobre o new wave, repleto de variações vocais e com direito a incursão pelo oriente. tudo isto antes do esplendor de l'amour va bien, merci. algures a meia luz, entre a doçura e a loucura do quarto cálido e dos lençóis de seda, num enxambrar de emoções transcendentais, da melhor canção, alguma vez feita em portugal, em língua francesa. até que chega o delito final: anabela duarte despede-se de nós a cantar no chuveiro. imagem voluptuosa para um final grandioso - como todo o disco.
(rui)
anabela duarte: http://anabeladuarte.pt.vu/
(rui)
anabela duarte: http://anabeladuarte.pt.vu/
Etiquetas: sons que fascinam
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Eis-me chegado por via do delito. Para além deste último os meus parabéns pelo blog. Brevemente constará nos meus para possibilitar (falsa modéstia) à babel alguma que me visita a possibilidade em destranhar a vossa cara.
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